sexta-feira, 16 de março de 2012

Resenha: O Cabeleira.


Resenha: O Cabeleira.



O Cabeleira de Franklin Távora.
(O Cabeleira foi publicado pela primeira vez em 1876)
TÁVORA, Franklin. O Cabeleira – São Paulo Editora, 1973. – 202 p.

João Franklin da Silveira Távora nasceu em Baturité, província do Ceará em 1842.
Aos 18 anos já havia publicado contos. Ingressou na Faculdade de Direito em Fortaleza e dedicou-se aos estudos da literatura. Em 1870 fez uma intensa campanha a favor de uma literatura regionalista. No fim da vida, precisou vender parte de sua biblioteca. Morreu pobre em 18 de Agosto de 1888.

O romance é a história de um assassino conhecido como “O Cabeleira” de nome José Gomes. As cenas das batalhas são descritas com detalhes, jorrando sangue para o leitor. Nas primeiras páginas é exatamente o que acontece, levando-nos a sentir o cheiro de tanta carnificina.
Pai e filho, junto com seus comparsas; aterrorizam os lugares que passam. Algumas cenas foram divertidas para mim, que imaginava o ocorrido com um certo humor, que não há na escrita de Franklin.
Algo a se levar em conta, é que a história se passa na época do romantismo no Brasil, mas há um pouco de naturalismo na obra, também.
O Cabeleira mata sem piedade, incentivado pelo pai. Gostei muito do livro que nos mostra o quanto uma pessoa pode ser influenciada por seu meio. José Gomes, na realidade não é malvado, sua mãe é de uma ternura só.
Joana, a mãe boa e fraca, viveu em luta incessante com Joaquim, o pai sem alma nem coração. ( p. 63)
Mas o pai acabou saindo de casa, por que queria um filho assassino e a mãe não. Levando-o consigo e dominando sua mente e suas vontades.
- Não quero que chores. Quem é homem não chora, quem é homem faz chorar. (p. 67)
Aliás, o determinismo do meio, é uma característica marcante do Naturalismo. O Cabeleira é na verdade uma projeção do ambiente e se confundi com o meio.
As mulheres da narrativa são todas pobres, mas de bom coração.
O autor destaca alguns pequenos pontos importantes da história do local. Tudo transcorre entre as matanças, até que o Cabeleira encontra uma rapariga na beira de um rio. Aqui é um momento importante, que mudará algumas coisas no enredo. O Cabeleria modifica seu comportamente passivo e obediente ao  pai, por que este queria a menina para sí. Mas ela é alguém importante na trama, que leva Cabeleira a enfrentar Joaquim: 
Não é meu pai aquele que só me ensinou roubar e a matar.( p.115)
No desfecho da obra o autor surpreende o leitor!

Eu li o livro, pois estou realizando um trabalho de Literatura sobre o autor Franklin Távora.
A leitura é um pouco cansativa, mas super recomendo. Franklin orquestra bem as palavras, apresenta magnificamente os cenários e as batalhas dos cangaceiros.
José Gomes de fato existiu e o autor utilizou das histórias contadas para escrever  seu livro.
Muito legal! Vale a pena para quem gosta dos clássicos da literatura.

Marli Carmen Jachnkee.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Análise da música: Cuando los angeles lloran...

Dando apenas uma olhada superficial na letra, parece apenas um grupo cantando sobre alguém que já morreu: “chove sobre o campanário, alguém morreu”. Parece recordar as memórias de alguém cujo nome está bem específico na letra.Olhando para o contexto histórico, é importante saber que a letra foi escrita em 1995 por um grupo mexicano, sobre um fato ocorrido em 1988, nos confins da Amazônia brasileira, em uma cidadezinha chamada Xapuri, no Acre.Durante aquele período, ninguém escreveria uma canção falando sobre a luta deste homem, pois seus esforços geralmente eram abafados pela mídia nacional, mas muito aclamado pela internacional. Até quando Chico Mendes recebeu ameaças de morte, tanto a polícia quanto a mídia deram às costas ao caso. Esta mesma mídia e polícia, depois da desgraça que acarretou a morte do seringalista, desejavam que o assunto morresse com ele. Mas a mídia internacional fez disto uma manchete mundial!Sendo assim, os esforços deste brasileiro, ultrapassaram as fronteiras e as gerações. É importante ter em conta, que a imprensa internacional, favoreceu muito a Chico Mendes, portanto, não é estranho escutar mexicanos cantando uma canção sobre ele.Para entender o contexto histórico e a denúncia contida na letra da música é preciso saber mais que o simples fato de Chico Mendes ter sido brasileiro, seringalista que lutou e morreu pela defesa da preservação da Floresta Amazônica. É preciso saber que: os seringalistas viviam suas vidas de homens da floresta até que, os donos das terras em que eles retiravam o látex para a fabricação da borracha, decidiram vende-las aos fazendeiros do sul, para o pastoreio de gado.Estariam os seringalistas sem sustento nem teto, teriam que lutar ou lutar. Não havia muitas opções. Chico Mendes foi um destes homens, aliás, aquele que mais se destacou. Esse movimento que parecia inofensivo acabou ganhando forças internacionais. E é claro, começou a incomodar os ricos fazendeiros, que influenciavam a política.Chico àquela altura, já estava até ganhando prêmios internacionais por sua causa de luta ambiental. Dentro do Brasil, pouco se falava sobre este homem. Foi aí que, ele começou a receber inúmeras ameaças de morte. Com o destaque internacional, que ele possuía, os Bancos Estrangeiros deixaram de emprestar dinheiro para a construção de estradas ou qualquer outra coisa que pudesse prejudicar a Floresta Amazônica. Isso deixou muitos empresários e políticos nervosos. Dentro de seus planos políticos estavam as promessas de levarem progresso onde ainda não havia. Daí a menção na música: “ele morreu a sangue frio, sabia Collor de Mello e também a polícia.” Chico avisou a polícia e a imprensa de que estava marcado para morrer, mas ninguém deu muita importância. Menciona-se também, o punho leve do Presidente em relação aos criminosos, depois do ocorrido. Pois em 1988 o Presidente era José Sarney, e durante o julgamento era o Collor. Os acusados do crime, pai e filho foram condenados à prisão dois anos depois da morte do seringalista. Fugiram da cadeia e foram presos novamente. Hoje, já estão em liberdade. A parte em que falam: “ele deixou dois lindos filhos, uma esposa valiosa”, destaca o fato de Chico ser um homem como qualquer outro, tinha sua família e seu trabalho, mas como poucos, fez algo realmente grande! Ele decidiu lutar por aquilo que julgava ser certo. E até hoje falam dele, escrevem livro sobre este homem, ou até mesmo canções! Em diversos lugares do Mundo!Para finalizar: “quando os anjos choram” é uma metáfora, pois na Amazônia chove muito, e poeticamente os autores querem dizer que a chuva são as lágrimas dos anjos, por tanta injustiça ocorrida naquelas terras. Por tantas mortes inocentes! Os autores, por fim, acabam desejando com essa música, fazer uma homenagem para Chico Mendes, seringueiro e brasileiro!
Por Marli Carmen, autora de "Amazônia- um caminho para o sonho.