Dando apenas uma olhada superficial na
letra, parece apenas um grupo cantando sobre alguém que já morreu: “chove sobre
o campanário, alguém morreu”. Parece recordar as memórias de alguém cujo nome
está bem específico na letra.Olhando para o contexto histórico, é
importante saber que a letra foi escrita em 1995 por um grupo mexicano, sobre um
fato ocorrido em 1988, nos confins da Amazônia brasileira, em uma cidadezinha
chamada Xapuri, no Acre.Durante aquele período, ninguém escreveria
uma canção falando sobre a luta deste homem, pois seus esforços geralmente eram
abafados pela mídia nacional, mas muito aclamado pela internacional. Até quando
Chico Mendes recebeu ameaças de morte, tanto a polícia quanto a mídia deram às
costas ao caso. Esta mesma mídia e polícia, depois da desgraça que acarretou a
morte do seringalista, desejavam que o assunto morresse com ele. Mas a mídia
internacional fez disto uma manchete mundial!Sendo assim, os esforços deste brasileiro,
ultrapassaram as fronteiras e as gerações. É importante ter em conta, que a
imprensa internacional, favoreceu muito a Chico Mendes, portanto, não é estranho
escutar mexicanos cantando uma canção sobre ele.Para entender o contexto histórico e a
denúncia contida na letra da música é preciso saber mais que o simples fato de
Chico Mendes ter sido brasileiro, seringalista que lutou e morreu pela defesa da
preservação da Floresta Amazônica. É preciso saber que: os seringalistas viviam
suas vidas de homens da floresta até que, os donos das terras em que eles
retiravam o látex para a fabricação da borracha, decidiram vende-las aos
fazendeiros do sul, para o pastoreio de gado.Estariam os seringalistas sem sustento nem
teto, teriam que lutar ou lutar. Não havia muitas opções. Chico Mendes foi um
destes homens, aliás, aquele que mais se destacou. Esse movimento que parecia
inofensivo acabou ganhando forças internacionais. E é claro, começou a incomodar
os ricos fazendeiros, que influenciavam a política.Chico àquela altura, já estava até ganhando
prêmios internacionais por sua causa de luta ambiental. Dentro do Brasil, pouco
se falava sobre este homem. Foi aí que, ele começou a receber inúmeras ameaças
de morte. Com o destaque internacional, que ele possuía, os Bancos Estrangeiros
deixaram de emprestar dinheiro para a construção de estradas ou qualquer outra
coisa que pudesse prejudicar a Floresta Amazônica. Isso deixou muitos
empresários e políticos nervosos. Dentro
de seus planos políticos estavam as promessas de levarem progresso onde ainda
não havia. Daí a menção na música: “ele morreu a sangue frio, sabia
Collor de Mello e também a polícia.” Chico avisou a polícia e a imprensa
de que estava marcado para morrer, mas ninguém deu muita importância.
Menciona-se também, o punho leve do Presidente em relação aos criminosos, depois
do ocorrido. Pois em 1988 o Presidente era José Sarney, e durante o julgamento
era o Collor. Os acusados do crime, pai e filho foram condenados à prisão dois
anos depois da morte do seringalista. Fugiram da cadeia e foram presos
novamente. Hoje, já estão em liberdade. A parte em que falam: “ele deixou dois
lindos filhos, uma esposa valiosa”, destaca o fato de Chico ser um homem como
qualquer outro, tinha sua família e seu trabalho, mas como poucos, fez algo
realmente grande! Ele decidiu lutar por aquilo que julgava ser certo. E até hoje
falam dele, escrevem livro sobre este homem, ou até mesmo canções! Em diversos
lugares do Mundo!Para
finalizar: “quando os anjos choram” é uma metáfora, pois na Amazônia chove
muito, e poeticamente os autores querem dizer que a chuva são as lágrimas dos
anjos, por tanta injustiça ocorrida naquelas terras. Por tantas mortes
inocentes! Os autores, por fim, acabam desejando com essa música, fazer uma
homenagem para Chico Mendes, seringueiro e brasileiro!
Por Marli Carmen, autora de "Amazônia- um caminho para o sonho.
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